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Vejam o depoimento de Cristina Filipe sobre seu trabalho RECONCILIAÇÃO
"Kadri Maelk completou cinquenta anos e resolveu convidar cerca de cinquenta artistas que ela cruzou na terra, a trabalhar sobre o Preto. Esta mulher estoniana que lidera a nova geração de joalheiros do báltico é um marco da joalharia contemporânea. Ela coordena o curso de joalharia da Academia de Arte de Tallinn e nas suas vindas a Portugal para participar em exposições e fazer intercâmbios de ensino, tem contaminado Portugal com o seu rasto negro... Quando recebi o convite de prestar um tributo ao negro através de uma jóia, lembrei-me da morte da minha avó e de que nessa altura eu decidi que uns brincos que lhe tinha feito, em ouro e âmbar, fossem enterrados com ela. Por quê? Simplesmente porque a minha avó não concebia a idéia de viver sem brincos. E, mais importante que guardar uma lembrança sua, seria saber que ela ia estar sempre com esses brincos até o seu corpo se transformar em pó. Aqui o que me interessou realmente foi a permanência dessa jóia no corpo e o saber dessa existência e desse lugar que a jóia preenchia enquanto veículo de comunicação entre nós. Acreditei que através dos brincos a minha avó ia sentir a minha presença, não por lhe ter sido eu a desenhar e fazer os brincos, mas por não me ter esquecido de os colocar. Quando a Kadri Maelk me convidou para participar nesta exposição, mencionou que gostaria que fizesse um retrato meu. Esse comentário sugeriu-me imediatamente uma imagem do meu corpo a manipular o negro enquanto matéria. Pensei em como representar a morte do corpo e a presença da jóia, tal como a imagem da avó Z. Mas mais do que isso “Reconciliação”, a peça que criei, representa a tensão que o corpo estabelece com a jóia. Afinal é o corpo que suporta a jóia ou a jóia que suporta o corpo? Nesta peça a jóia está ausente, mas o gesto indica o seu lugar e o corpo retrata a sua presença pela ausência." Tanel Veenre, artista joalheiro da Estônia, comentou: “Cristina Filipe criou um altar para o seu sofrimento. Infinitamente melancólico e ao mesmo tempo extremamente humano. A tristeza empurra-nos para o outro lado do muro, deixando apenas duas fendas, uma para os olhos e outra para a mão, abençoado como um ícon, não oferecem ajuda, mas procuram um inconsolável. Aqueles que também erguem a mão nas suas jaulas”
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